domingo, 29 de setembro de 2013

Sobre vacas, xixis e outras coisas…


Há quem diga que pisar na m&rd@ dá sorte. No meu caso, isso é quase sempre sinônimo de azar e em alguns casos, de prejuízo, como nesse causo que me aconteceu já tem um tempinho, quando eu ainda era uma intrépida repórter de agronegócio e passava mais dias na estrada do que em São Paulo. Aaaah tempo bom… Eu e o fotógrafo voamos até Goiânia, de onde seguimos de carro até uma cidadezinha no interior de Goiás, onde mal havia um hotel para se hospedar. Nossa missão era fazer uma matéria de negócios com um grande pecuarista da região, conhecer a fazenda, coletar dados e fazer muitas e muitas fotos.

Na manhã da entrevista fomos até à fazenda depois de uma experiência única em um “hotel” e tanto. Mas isso fica pra outro post. O proprietário da fazenda, muito gentil, nos levou para conhecer todas as instalações e estava animado e disposto a fazer as fotos e a providenciar tudo o que precisássemos de material para a produção do cenário. Eis que percorrendo o curral, no meio de um papo sobre detalhes de produtividade e manejo, paramos em um pequeno corredor que passava entre duas fileiras de vacas que comiam calmamente, de costas para nós, balançando seus rabinhos para lá e para cá.

Me lembro de estar usando uma bota de montaria, dessas que toda mulher tem pra usar no inverno e de já ter pisado nos dejetos das vacas mais de um milhão de vezes desde que eu chegara ali. Até aí, nada de mais, fazia parte do trabalho. O solado da minha bota já estava alguns centímetros mais alto de tanto escorregar e pisar nas ditas cujas, mas eu me mantive ali, firme e forte. Até o momento em que uma das malditas vacas, literalmente vaca, levantou seu rabo e expeliu um jato de urina em nossa direção, que somado ao vento forte que coincidentemente bateu naquele momento, nos fez tomar um banho de xixi. E eu, que já tinha atolado o pé na lama, pra não dizer outra coisa, agora, tinha sido brindada com uma chuva de urina. 


Fonte: http://i225.photobucket.com/albums/dd59/blogadao/Blogadao/urina_03.jpg


Tenho certeza que a danada calculou a ação, certamente devia estar cansada daquela vidinha de comer, balancar o rabo, engordar, balancar o rabo de novo e dar leite e resolveu deixar o dia mais animado. Minha blusa e parte da lateral da minha calça foram atingidas com o presente, mas nem me importei muito, pensei: “No aeroporto eu troco de roupa”. Quando chegamos ao aeroporto, estávamos em cima da hora para o embarque, mal deu tempo de ir ao toalete. Mas consegui entrar correndo no banheiro, trocar a blusa, e renovar o desodorante. Ao abrir a mala, me dei conta de uma coisa. Eu não tinha outra calça ou sapato para trocar. Como a viagem era um bate volta, apenas de uma noite, eu sequer levei sapato reserva.

O resultado disso é que a minha calça secou e os dejetos das vacas na sola da bota também secaram. E é justamente quando eles secam, que na minha opinião, eles mais fedem. Entramos no avião, eu e o fotógrafo, carregando conosco aquele cheiro agradável de curral. Por onde passávamos, percebíamos os olhares das pessoas. Eis que então meu colega de trabalho, ciente da situação, vira para o meu lado e comenta: “Estavam bonitas aquelas cabeças de gado na sua fazenda, hein? A produtividade está aumentando que é uma beleza!” Pronto: passamos de mal cheirosos a fazendeiros, em um segundo. Depois de rirmos da situação, eu me ajeitei na poltrona e dormi, sonhando com as “minhas cabeças de gado”… e com um banho!

Mas e a bota? Bom, a bota, eu nunca recuperei. O cheiro de urina e esterco impregnaram de tal forma no couro do sapato que eu tentei de tudo. Sabão, amaciante, álcool, desinfetante, sol… nada deu jeito. Depois de uns meses ela embolorou e eu finalmente desisti e a joguei no lixo. Já a calça, ainda participou de muitas pautas rurais depois de um bom tempo de molho e uma lavagem daquelas.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Socorro, minha calcinha sumiu!


Fonte: http://www.jokamadruga.com/wp-content/uploads/2011/06/calcinha_trat.jpg

Não, não, caro leitor, não perdi a calcinha por aí, nada disso. Mas este título tem tudo a ver com uma história muito engraçada que presenciei há alguns anos. Uma das coisas mais comuns quando se trabalha em redação é ser convidado para uma press trip. Eu, como todo jornalista de agronegócio, adoro colocar o pé na estrada e essas viagens com um grupo de coleguinhas são bacanas para conhecer de perto o trabalho de empresas, passar por novos locais e claro, fazer novas amizades.

E como não poderia deixar de ser, toda press trip que se preze tem uma boa história de bastidores para contar. Uma delas, que me faz chorar de rir até hoje, aconteceu em uma viagem internacional, há alguns anos. Já contei essa história várias vezes em mesas de bar e em reuniões com amigos, sempre com um ataque de riso no meio e sem é claro, nunca revelar as identidades verdadeiras das personagens.

Nosso destino era um país da América do Sul, para uma semana cheia de coletivas, visitas, pé na estrada e eventos, e claro, com os horários super apertados. Ao chegarmos no hotel, fomos informados pela empresa que nos convidou, que ficaríamos em duplas nos quartos. O grupo era grande e como estávamos cansados da viagem, logo, cada dupla fez seu check-in e subiu para o quarto, a fim de se preparar para o próximo dia que seria bastante puxado.

Minha companheira de quarto era uma jornalista também brasileira, super simpática. Ficamos amigas de imediato. Camas escolhidas, malas abertas, eis que ouço: - Ai meu Deus!! Não é possível, não acredito!!!! Gentilmente perguntei à coleguinha o que estava acontecendo, e ela: - Esqueci minha bolsa com todas as calcinhas em casa! E agora?

Passamos os 15 minutos seguintes tentando encontrar uma solução para o problema. Mas os supermercados e lojas já estavam fechados àquela hora da noite e a solução seria encontrar uma brecha na programação do dia seguinte para ir às compras. O problema é que nossa programação incluía visitas a locais distantes (veja bem, repórteres de agronegócio), como fazendas e áreas industrias, inclusive em cidades vizinhas. Então, o jeito encontrado pela colega foi lavar a calcinha no chuveiro e colocá-la para secar presa à janela do quarto, rezando para que no dia seguinte, ela estivesse, na pior das hipóteses, úmida.

Na manhã seguinte nosso relógio despertou bem cedo, por volta das 06hs, apenas a tempo de nos arrumarmos, tomarmos um desajuno e entrarmos na van rumo à programação do dia. Eu ainda estava criando coragem para sair da cama quando minha colega de quarto foi em direção à janela, que ficava bem ao meu lado, para resgatar sua calcinha:

-       Ai, cadê, não acredito, eu coloquei aqui!!!

Eu sem entender nada, mas já imaginando o que poderia ter acontecido, sento na cama e pergunto à ela, que a essa altura já olhava por trás das cortinas, embaixo da cama…

-       O que houve?
-       Minha calcinha, eu coloquei aqui ontem à noite pra secar, mas ela sumiu!!!

Nessa hora, respirei bem fundo para não rir e me levantei para ajudar a colega a procurar a tal peça. Mas antes de revirarmos o quarto eu resolvi me debruçar no parapeito da janela, pra verificar se a dita cuja não tinha caído no apartamento de baixo ou algo assim. Foi quando olhei para o lado esquerdo, e vi, a tal, a calcinha, esticadinha, estirada, sobre uma árvore, bem em frente ao hotel, para todo mundo ver. Aí, eu juro que tentei, mas não consegui mais segurar o riso… Na verdade a gargalhada. Eu ri tanto que sequer consegui avisá-la com palavras, simplesmente a puxei para a janela e apontei. Caímos as duas no riso, é claro!!

Depois da crise de riso, restabelecidas, nos restava apenas pensar em um plano para resgatar a tal calcinha filha única. Aí, como eu já estava pronta para descer e tomar café e já estávamos em cima da hora, me ofereci para a missão. Peguei uma sacolinha de supermercado, enfiei no bolso e desci confiante rumo ao jardim do hotel.

Quando cheguei no térreo, um grupo de coleguinhas já nos aguardava no saguão. Passei por eles e disse bom dia, saindo em direção à porta de entrada. Chegando perto da tal árvore da qual brotava calcinha, vi que o jardim era separado da passagem de hóspedes por grades e placas de metal, seria impossível resgatar a peça pelo lado de dentro dos portões. Olhei para a rua. Na verdade, o hotel dava para uma avenida da cidade, que aquela hora já estava movimentadíssima. Eu não tinha outra escolha a não ser dar a volta, subir no muro pelo lado de fora até alcançar a tal da árvore guardada a sete chaves.

Confesso que no início saí na calçada meio acanhada, preocupada com a possibilidade de ser confundida com uma ladra ou coisa assim. Nenhum policial jamais acreditaria se eu dissesse que estava ali para resgatar uma calcinha… Então, esperei a calçada ficar vazia, corri em direção ao muro, subi a grade, alcancei a árvore com muito esforço e tchanam, resgatei a calcinha!!! Guardei o item na sacolinha e voltei triunfante para o quarto, certa de que tinha salvado o dia da coleguinha, mas não sem gargalhar mais meia hora outra vez!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quase três anos de puro abandono depois...

E aí que por uns tempos eu até esqueci que tinha um blog. A correria do trabalho, onde eu já escrevo o dia todo, somada aos afazeres da vida doméstica e demais obrigações, acabaram por me fazer deixar sempre para amanhã a publicação de um novo post. E eu tinha esquecido como era legal ter ideias para posts do nada, a qualquer hora ou em qualquer lugar e me empolgar em escrever, sem me preocupar muito se alguém vai ler ou não (no trabalho, por mais que não admitamos, nós jornalistas sempre escrevemos de uma forma ou de outra, esperando aprovação seja do leitor, do entrevistado ou do editor...). Mas aqui sempre foi o meu espaço de desabafo, reflexão, memórias e descobertas, um "local' livre, mais leve.

Agora, vida um pouco menos atribulada, o blog de repente volta a fazer mais sentido na minha vida outra vez. Isso porque em três anos muitas mudanças ocorreram e talvez a principal delas seja de que dentro de alguns meses eu e o marido embarcaremos em mais uma aventura. E aí o blog surgiu outra vez, como uma ótima oportunidade para eu não deixar de exercitar a escrita enquanto estiver andando por aí e também por ser um meio de ficar próxima dos amigos e parentes, mesmo longe.

Hora de tirar a poeira desse blog! Fonte: stock.xchng
Por isso é hora de tirar a poeira dos móveis, dos livros e do teclado e retomar o tempo perdido! Se alguém ainda acessa isso aqui e lê o que eu escrevo, por favor, tenha paciência. Estou um pouco enferrujada e vou precisar de uns posts mais para "pegar no tranco".

Não prometo frequência de posts porque ainda não sei como vão ficar meus dias daqui para frente, mas a ideia é escrever ao menos duas vezes por semana, não só contando sobre os preparativos para a viagem, mas também sobre tudo mais que eu achar legal, divertido ou interessante. Afinal, relendo meus antigos textos, me lembrei que esse blog nunca foi sobre um tema só, mesmo, o que pra mim é bom. Assim, escrever continua sendo divertido e não se transforma em uma obrigação, já que como toda boa ariana com ascendente em Áries, tenho horror à rotina, ainda que ela seja quase sempre inevitável...

Já tenho algumas histórias no meu arquivo mental que há tempos venho enrolando para escrever. Mas em breve, eles serão compartilhados aqui com vocês. :)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Céu cinzento, memórias nubladas

 
Num domingo cinzento e frio eu estava lá novamente. Depois de quase dez anos, olhando fixamente para ele. Na memória, um milhão de lembranças passavam rapidamente, coisas boas, outras ruins, dias de riso, outros de choro. Tantos sonhos, planos, projetos, alegrias, músicas, decepções e algumas brigas também. Mas o balanço geral era positivo. Ergui a cabeça, respirei fundo, com o coração acelerado e entrei pelo portão do velho prédio do colégio onde estudei por 6 anos da minha vida. Ainda me lembro do primeiro dia de aula, na sexta série, eu perdida, achando que aquela escola era gigantesca. Mas ali, naquele momento, agora mais velha, percebi o quão pequenino era aquele pátio. Na verdade, o que fazia daquele espaço tão vasto eram as turmas intermináveis de adolescentes barulhentos que se reuniam em suas rodinhas nas horas de intervalo. As árvores onde costumávamos encostar para aproveitar a sombra, não mais existem. As paredes, agora com um bege descascado, estavam mal cuidadas. Mas o chão era do mesmo paralelepípedo onde tropecei tantas vezes com meu all star vermelho cheio de estrelinhas rabiscadas com caneta bic e a barra da calça desfiada que arrastava no chão. E mesmo eu estando diferente, mais madura, com a vida totalmente diferente, eu parecia ser a mesma menina. A cada passo, mais e mais lembranças, cada cantinho daquele lugar tinha uma história. Até o vão onde a água da chuva caía foi o protagonista de uma cena hilária, quando uma amiga minha, então com o pé quebrado, foi tentar atravessar o espaço com suas hábeis muletas e acabou estabacada lá dentro, com as pernas para o alto, gritando para alguém ajudá-la. Antes disso oferecemos ajuda para carregá-la, mas ela, orgulhosa, disse que já dominava a arte de caminhar com suas novas companheiras. Tudo bem, pulamos o buraco e seguimos conversando, quando ouvimos um estrondo. Tivemos uma crise de riso, eu, ela e as meninas, lá, sentadas no chão, sem forças para sequer ajudá-la a sair daquela situação. No pátio coberto, apesar de algumas mudanças, tudo continuava exatamente igual. O mesmo cinza do chão, as mesas, a cantina e a escadaria que levava para as salas do andar de cima. Quantas vezes não ficamos sentadas ali, no intervalo ou antes do início das ualas, esperando pelo sinal, com a mesma vontade de entrar na sala de aula de quem vai entrar num presídio. Era dali que observávamos os garotos, os nossos paquerinhas, por quem jurávamos sentir o mais puro e belo amor do mundo. De lá também sentíamos ódio mortal das garotas oferecidas que viviam com eles. Era na escada ou no pátio, sentados no chão mesmo, que dividíamos o lanche, os dramas da adolescência, as revistas teens, o novo cd dos Hanson ou dos backstreet boys, os pôsters para colar no quarto. Fazíamos os testes das Atrevidas e Caprichos, pra saber se “o gatinho está a fim de você” ou líamos vorazmente as matérias para conhecer “dez dicas para conquistar o gato da escola”. Aqui cabe um parênteses para as mulheres que têm mais de 25 anos: qualquer semelhança com a revista Nova, guardadas as devidas proporções, é mera coincidência.

Foi ali dentro que deixei as bandas pops de lado e passei a curtir rock. Começando com o Bon Jovi (tá, não é rock, eu sei), Nirvana, passando por Aerosmith, Metallica, Guns N’Roses, Mercyful Faith, Skid Row e uma lista interminável de bandas. Ouvia tudo o que caí nas minhas mãos. Nessa mesma época fiz novas e inesquecíveis amizades no bairro em que morava e contava animadamente para as minhas amigas o quanto aquela turma era demais! Algumas se apaixonaram pelos meus amigos, para meu ódio mortal, rss. Mudei meu jeito de vestir, passei a pintar as unhas de preto, usar camisetas de banda e a calça jeans rasgada, que eu mesma customizava em casa, sob o olhar da minha mãe, que ao final me dizia: ficou muito legal!! Adorei!! Sorte a minha ter pais que sempre me deram liberdade de escolhas. Tantos outros amigos meus tinham que fazer esse tipo de coisa escondida. Nesse mesmo período tive meu primeiro namorado, um garoto de uma outra escola, mas que fazia parte da turminha do bairro. O namorico durou pouco, mas me lembro perfeitamente do dia em que cheguei na escola e contei a novidade para as amigas. Eu tinha um namorado. Logo depois eu vi que namorar nem era tão divertido assim e que me privar da companhia de tantas pessoas legais por causa de uma pessoa era muito pra mim, que sempre odiei me sentir controlada. Foi ali naquele pátio que vi meu paquerinha lindo (naquela época ele parecia lindo, vai) que estava um ano à frente de mim, numa bela manhã, beijar uma garota conhecida da escola. Não, eu nunca fui muito popular mesmo. Aquela sensação terrível e o drama que todo adolescente faz por causa desses episódios mereceram páginas e mais páginas do meu diário, que inclusive eu guardo até hoje. Mas logo a decepção passou e eu passei a paquerar outro garoto. Foi ali também que decidi ser jornalista e passava tanto tempo contando para as minhas amigas o quanto a profissão era apaixonante e quantos livros eu lia em casa sobre o assunto. Naquele lugar eu devorava livros na pressa de estudar para o vestibular e de me tornar uma jornalista bem sucedida. Lembro de quando quiseram mudar todas as turmas que iriam fazer o 3º colegial no ano seguinte, para o período noturno. Inconformados, organizamos um protesto, chamamos os jornais e emissoras de rádio e tv, fizemos passeata, exigimos reunião com o delegado de ensino e a diretoria da escola. Foi uma sensação de vitória sermos ouvidos. O resultado foi uma conciliação e a turma da passeata na capa do principal jornal de cidade no dia seguinte. E eu já me sentia uma jornalista! Hahahah.

Olhando novamente para aquelas paredes, aquelas salas, tão descuidadas, abandonadas, senti um misto de nostalgia e tristeza. Pode ser arrogância minha, mas duvido que os adolescentes de hoje que estudem naquela escola vivam as coisas com o entusiasmo e um pouco da inocência que o mundo ainda nos permitia ter.  Não faço ideia do que aconteceu com meus “eternos amigos” e colegas daqueles anos especiais. Mas sou capaz de lembrar do rosto ou do nome completo de muitos deles, sem falar das piadinhas, até hoje. Acho que não fiquei ali mais do que 10 minutos, enquanto esperava meus amigos votarem, mas foi o suficiente para trazer à tona um misto de sensações e lembranças que eu nem sabia existirem dentro de mim. Engraçado como tudo se encaioxou perfeitamente. Voltar àquele lugar, àquela cidade, em um fim de semana onde tantas coisas do passado vieram de encontro a mim, me permitiu reviver alguns bons momentos. Coincidência ou não, todos os reencontros que tive ali naquela cidade fizeram parte do mesmo período da minha vida. Como tudo, talvez esse reencontro tenha sido uma despedida, ou talvez seja apenas um até logo que deixou saudades, afinal, o mundo é mesmo uma pracinha e nunca sabemos o quê ou quem iremos encontrar na próxima volta.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O fluxo



Velocidade. O fluxo do pensamento que não deixa dormir. O vai e vem, o vão, o céu, o sol, o medo, a dúvida, o tédio, a raiva, tristeza, melancolia, alegria, instabilidade... a instabilidade. A graça, a surpresa. O inesperado ou o nada. Caos? Temo, choro, rio, ouço, vejo, me calo, quero gritar, me contenho, quero cantar mas não posso. Saltar rumo ao abismo? Mas já não saltei? A dúvida, o credo, a esperança, a confiança, o sorriso, a decepção, desilusão. Não quero, mas quero, não deveria, mas ajo, sumiria se conseguisse, prometo e não cumpro, me esforço e é em vão. Amo ou odeio, desejo ou rejeito, preciso ou desdenho, questiono, me revolto, passos firmes, coração apertado, flutuar, desistir, resistir. Cálculos, contas, racionalismo, teoria, planos, projetos, procurar objetivos, foco, mas são tantas coisas, desisto, esqueço, subentendo, imagino, crio, recrio, copio, me inspiro, me pergunto, por quê? Por quê???? Preciso esquecer e não consigo? Não sei, nada resolvido, ausência, presença, incógnita, ah, sim, isso até faz sentido, ou não faz? Lembranças, memórias, estórias, saudades, inquietação, ansiedade, eu quero, resposta, silêncio, a confusão que se faz presente, mistura, frenética, realidade, sonho, frustração, sonho, passado, sonho, revivo, vivo, sobrevivo. A noite, uma estrela, o vácuo, escuridão, frio, o vento, o vapor, a quietude, o zumzumzum das folhas, do pensamento, do coração. Querer voar, pousar ali, uma casinha, interior, lua clara, face iluminada, a calçada, a rua, braços abertos, a árvore, o tempo parou, tudo congelou e agora, o que será? O que foi ou o que não foi, hoje ou amanhã, bem-vindo, até mais, adeus ou fique aqui, no caos, de mãos dadas, apoio, amizade, força, ir em frente, amor. Sou eu? É você ou ninguém?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O dia em que descobri a importância de um bom oftalmologista

Quem me conhece bem sabe que desde criança, acho que desde os 6 anos, eu uso óculos. O grau sempre foi baixinho, bem menos que 1º, para miopia (até hoje não decorei, é isso que tem quem não enxerga de longe?) e astigmatismo (já me explicaram um milhão de vezes no que consiste e eu sempre esqueço). Bom, o fato é que trabalhando ao longo de alguns anos diante de um computador por no mínimo oito horas diárias e acrescentando o tempo de computador em casa e na frente da tv, minha vista tá bem ruinzinha nos últimos tempos. Tenho enxergado tudo bem embaçado, isso me incomoda, digo que vou ao oftalmologista, mas a correria sempre me faz deixar a consulta para depois.
Enquanto o enxergar embaçado não te faz passar por nenhuma situação ridícula, do tipo entrar tagarelando na roda errada de amigos (sim, eu já fiz isso quando era adolescente e ainda enxergava perfeitamente), está tudo sob controle, mas esse não foi o meu caso. No último feriado, depois de três meses sem ir visitar a família no interior, fiz as malas e fui feliz e contente rumo à Araraquara. Depois de cinco horas de viagem e uns cochilos, desci na rodoviária e fiquei sentadinha em um banco à espera de meu amado pai. Antes tivesse ficado por ali até ele ir me buscar pelas mãos…



Mas não, criatura apresssada, logo vi um carro igualzinho ao do meu pai (juro, era o carro dele!!!) parar próximo ao estacionamento. Olhei de longe e embaçadamente o vi lá dentro, calça de moleton preta e uma blusa de frio meio bege e o óculos pendurado no pescoço. Ok, meu pai tem uma roupa assim. Não pensei duas vezes, levantei, fui feliz e contente em direção ao veículo. Abri a porta de trás calmamente, coloquei (não, na verdade eu joguei) a minha mala no banco de trás, abri a porta da frente, sentei no banco do passageiro e olhei para o lado. Acho que demorou uns segundos pra eu me tocar que o “meu pai” estava um pouco diferente. Forcei os olhos pra ver se conseguia focar direito, devo ter feito uma careta horrível por causa do susto que tomei e aí pensei: “Meu Deus, será que em três meses meu pai emagreceu tanto que ficou assim???? Ou será que ele tá doente e ninguém me contou??”

Quando já estava me forçando a acostumar com o meu pai meio esquisito e desfigurado, o pouco de bom senso que me resta se fez presente: Não, aquele não era o meu pai, eu tinha entrado no carro errado!!!!! Fiquei uns segundos olhando pra frente, pensando no que dizer, virei para o senhor e disse: Acho que você não é meu pai… Ele, sério e na maior calma do mundo, respondeu: Não, eu só vim buscar a namorada do meu filho… Juro que o tom dele era uma tentaviva desesperada de se explicar, como se ele tivesse entrado no meu carro e não eu no dele!!! Aí eu comecei a rir muito, pedi desculpas, saí do carro, dei de cara com a tal nora do cara, falei sei lá o quê, abri a porta de trás, tirei a minha mala e fiquei em pé, parada lá no estacionamento, rindo igual a uma retardada. Quem viu a cena, não deve ter entendido nada e aposto que o cara que tava sentado do meu lado no banco, esperando irem buscá-lo assistiu tudo de camarote e se matou de rir. Mas eu nem me dei ao trabalho de olhar pra trás, pra não piorar as coisas.

Só sei que até hoje não acredito que fiz isso. Claro que quando meu pai chegou eu contei a ele e pra minha mãe o que tinha acontecido. Eles se mataram de rir e minha mãe disse que sentia vergonha pelos outros, no caso, por mim. Pena que ninguém filmou tudo e pena maior ainda que eu estava sozinha, não tinha ninguém pra rir comigo na hora. Agora, uma coisa me intriga: por quê aquele senhor ficou pacientemente só observando o que essa doida que vos escreve ia fazer? Por quê ele não falou algo como: Ei, sai do meu carro, quem é você? Vai ver ele estava viajando… Ou vai ver ele também enxerga tão mal quanto eu (lembrem-se do óculos pendurado no pescoço). O fato é que a resposta eu nunca saberei. Depois dessa já avisei lá em casa: todo mundo que for me buscar em qualquer lugar ou desce do carro e vai até mim, ou buzina, ou liga no meu celular. Do banquinho, espontaneamente, eu juro que nunca mais levanto!!! Ah, a consulta no oftalmo? Ainda não marquei, mas eu irei, em breve, bem antes de trombar num poste ou cumprimentar o amigo errado.

domingo, 18 de julho de 2010

O REBELDE



Pergunta:
Amado Osho
O caminho do rebelde é o caminho do meio ou o caminho dos extremos?
Tenho ouvido você falar a favor e contra ambos, e também dizer que não existe caminho. O que guia o rebelde?

Osho: O REBELDE NÃO TEM caminho algum para seguir; aqueles que seguem algum caminho não são rebeldes. O próprio espírito de rebeldia não necessita de qualquer orientação. Ele é uma luz em si mesmo.

As pessoas que não podem se rebelar pedem por uma orientação, querem ser seguidoras. A psicologia delas é a de que ser um seguidor as alivia de todas as responsabilidades; o guia, o mestre, o líder, o messias se tornam responsáveis por tudo. Tudo o que se requer do seguidor é apenas que tenha fé. E apenas ter fé é um outro nome para escravidão espiritual.

O rebelde está em um tremendo estado de amor pela liberdade - liberdade total, nada menos que isso. Daí ele não ter salvador, mensageiro de Deus, messias ou guia algum; ele simplesmente vive de acordo com sua própria natureza. Ele não segue ninguém, não imita ninguém. Certamente ele escolheu o modo de vida mais perigoso, cheio de responsabilidades, mas de uma alegria e liberdade tremendas.

Ele muitas vezes falha e comete erros, mas nunca se arrepende de nada, porque aprendeu um profundo segredo da vida: ao cometer erros você se torna sábio. Não existe outra maneira de se tornar sábio.

Ao extraviar-se, você conhece mais claramente o que está certo e o que está errado, porque tudo aquilo que lhe dá miséria, sofrimento, que torna sua vida uma escuridão sem fim, sem amanhecer... isso significa que você se extraviou. Perceba-o - e volte novamente para o estado de ser onde você está em paz, silencioso, sereno, uma fonte de felicidade, e estará novamente no caminho certo.

Estar em estado de graça é estar no caminho certo.
Estar infeliz é estar errado.
A peregrinação do rebelde está repleta de surpresas. Ele não tem mapa nem guia, assim, a cada momento está entrando em um novo espaço, em uma nova experiência - em direção a sua própria experiência, à sua própria verdade, ao seu próprio êxtase, ao seu próprio amor.

Aqueles que são seguidores nunca conhecem a beleza de experenciar coisas novas. Eles sempre têm usado conhecimento de segunda mão, e fingido serem sábios. As pessoas são certamente muito estranhas. elas não gostam de usar sapatos de segunda mão. Mas quanto lixo elas estão carregando em suas cabeças... simplesmente, sapatos de segunda mão! Tudo o que elas sabem, é emprestado, imitado, aprendido - não pela experiência, mas somente pela memória. O conhecimento delas se consiste em memorização.

O rebelde assemelha-se a um pássaro voando no céu; que caminho ele segue? Não existem estradas no céu, não existem pegadas de pássaros ancestrais, de pássaros notáveis, Gautamas Budas. Nenhum pássaro deixa qualquer pegada no céu; portanto o céu está sempre aberto. Você voa, e faz o seu caminho.
Encontre a direção que lhe dê alegria. Mova-se para a estrela que toque sinos em seu coração. Você deve ser o fator decisivo, ninguém mais!"


OSHO