sábado, 15 de maio de 2010

Quanto vale a vida?

Da última vez em que ela o viu, não era uma despedida anunciada, mas sim um até breve. Foi o que ela pensou. Um dia voltaremos a nos encontrar, tenho certeza. Mas a certeza nem era tanta assim. E logo depois daquele final de ano, com o fim das aulas vieram as férias e as expectativas. O vestibular e muitas mudanças. E com tudo isso, ela se esqueceu dele e da certeza do reencontro. Com o passar do tempo vieram novas experiências, amizades, alguns amores felizes, outros frustrantes. E sim, por algumas vezes ela se lembrou dele. Onde estaria? O que estaria fazendo? Teria casado, com quem? E mais importante do que aquelas indagações, eram as lembranças que tinha dele. Poucas é verdade e bastante distantes. Mas às vezes gostava de se lembrar daquela época com saudade. Saudade não só do que viveu, mas do que gostaria de ter vivido. Algumas notícias de longe, pela internet, de vez em quando. E ela pensava: "Quem sabe um dia?" Afinal, o mundo é imenso sim, mas algumas vezes a vida nos dá uma segunda chance, um reencontro, pra que possamos fazer diferente do que foi na primeira vez. E então, um dia, em meio a um turbilhão de mudanças e muitos acontecimentos, enquanto ela tentava superar algumas coisas que a faziam sofrer, e iniciava uma nova fase da sua vida, ele ressurgiu em um recado despretensioso, sim, um recado. Depois de quase 10 anos? Não acreditou no que viu. "Será que foi mesmo para mim? Não teria errado o destinatário? Mas nós nunca nos falamos..." Independente disso, ficou feliz.  E mais do que isso, diferente da outra vez, decidiu arriscar, tudo bem, não era um risco tão real, mas um risco, para quem sempre havia se recolhido ao canto da sala durante um ano e apenas observava. E o fez. E arriscou. Era a prova de fogo. Fazer diferente dessa vez, se permitir tentar, de coração aberto. Ao que parece, ele também consentiu, se mostrou receptivo, feliz com o reencontro. E quando ela o olhou, percebeu que algumas coisas tinham mudado sim, para os dois, mas que ele era essencialmente o mesmo que a encantara há tanto tempo. Mas o tempo e a dureza do dia a dia sempre se encarregam de dificultar as coisas e de afastar as pessoas. Não, ela não queria que isso acontecesse, queria agir diferente de todas as outras vezes em qu se viu envolvida, mas parecia não saber como. E ainda não sabe. Mas uma voz insistente soprava em sua mente e lhe dizia insistentemente: seja sincera, verdadeira, do seu modo, mas o faça. Afinal, quanto vale a vida sem as pessoas que são importantes para nós? E não é que de fato a voz tinha razão? Então, ela decidiu-se por dizer a ele que estava feliz, que ele era importante na sua vida e que desde o reencontro, ela pensava nele todos os dias, não com aquela obssessão juvenil, mas com uma calma, uma certeza e uma vontade típicas de quem sabe de fato o que quer. E então, ela se abriu com ele, da maneira que melhor sabia fazê-lo: escrevendo.